O Desejo de Hoje

Pra hoje eu não planejei lágrimas;

mas elas insistiram em ficar...

não queria, num dia tão claro, um anoitecer particular

queria pra hoje um momento

não sublime,

tampouco extraordinário

poderia ser

apenas mais um dia

como outro qualquer

com as mesmas horas

e até a rotina idêntica

sem trovoadas no meu céu

e nenhum vendaval abalando minha estrutura...

só almejei

que o curso natural

não se perdesse em seu corriqueiro caminho.

Queria sentar num gramado

de um descampado

poderia ser a sós, 

o nada e eu

apenas sentindo o prazer

das sensações mais singelas

que se aflora na modéstia 

das coisas naturais.

Quero me encostar num madeiro jogado, esquecido 

e lá deixar que me esqueçam,

lançar os braços na direção do vento e esperar

o círculo da vida concluir mais um de seus dias,

vou fechar meus olhos e me deleitar ao som das melodias noturnas,

uivos, pios e assobios,

aspirando a essência das damas-da-noite...

ver que a madrugada fria adentra a cena e logo abre alas

para o espetáculo do rei

que radia horizontes, reluz as águas brilhando e brilhando

torna-se dia perfeito

trocaria essa cabeça quente por um de seus raios, mesmo que ardentes

no auge do meio dia.

Quero aguardar

pra ver novamente

a tarde cair,

caçar um montinho de grama,

me acomodar ali, minha câmera e eu;

mirá-la na beleza mais humilde e menos notável

e levar comigo a lembrança eterna

de um momento que ninguém viu;

notou

ou apreciou,

mas que meus olhos, tão doloridos pelas insistentes lágrimas

puderam se encher de doce alegria.

Foto e texto: Isabela Moraes

Beijinhos, Isa.